“Estamos focados na cooperação de longo prazo”
Assine o boletim informativo
Fazer sua inscrição
#286Fevereiro 2025

“Estamos focados na cooperação de longo prazo”

de volta ao conteúdo

Ivan Dybov, Diretor do Centro Rosatom América Latina, fala sobre tendências no mercado global de energia nuclear, principais projetos da Rosatom na América Latina e planos para este ano.

— Por favor, descreva os principais resultados de 2024 para o setor nuclear russo.

— 2024 foi um ano importante para a Rosatom e todo o setor nuclear. Nossa corporação se tornou líder mundial no desenvolvimento de tecnologias nucleares de quarta geração. Em dezembro, colocamos em operação piloto o módulo de fabricação e refabricação de combustível no reator BREST-OD-300, a primeira instalação de um complexo de energia nuclear exclusivo de nova geração.

Além disso, em 2024, a Rosatom concluiu o primeiro contrato de exportação do mundo para a construção de uma usina nuclear de pequena capacidade. Uma usina nuclear com capacidade de 330 MW – seis reatores de 55 MW cada – será construída no Uzbequistão. O início da operação elétrica da primeira unidade está previsto para o final de 2029.

O ano também marcou o 65º aniversário da frota de quebra-gelos nucleares da Rússia. Os novos quebra-gelos garantem a navegação durante todo o ano ao longo da Rota do Mar do Norte, que está se tornando a principal via de transporte aquático da Eurásia.

A Rosatom continua sendo líder no setor nuclear global na exportação de usinas nucleares, com uma participação de mercado superior a 90%. Atualmente, há 22 unidades de energia em construção em sete países.

— Quais são as principais áreas de atuação da Rosatom na América Latina?

— A Rosatom dedica atenção especial à implementação de projetos na América Latina. O projeto-chave no momento é a construção do Centro de Pesquisa Nuclear, que chegou à fase final.

Em 11 de setembro de 2024, foi assinado um contrato entre o Uranium One Group (parte da Rosatom) e a empresa estatal boliviana YLB (Yacimientos de Litio Bolivianos) para a construção de um complexo de extração e produção de carbonato de lítio no salar de Uyuni, no departamento de Potosí, na Bolívia. Podemos dizer que estamos participando da formação de um novo setor no país e criando empregos altamente qualificados.

Fornecemos com sucesso produtos isotópicos para as necessidades da medicina nuclear no Brasil, ocupando uma significativa fatia do mercado. Cumprimos integralmente nossos compromissos de entrega de isótopos industriais para a empresa Eletronuclear.

O cumprimento das obrigações contratuais de fornecimento de produtos e serviços do ciclo do combustível nuclear para o Brasil continua. O lado russo foi declarado vencedor da licitação da empresa INB para a prestação de serviços de enriquecimento e conversão de urânio fornecido pelo Brasil. A assinatura do contrato está prevista para o início deste ano.

— Quais são as principais tendências no mercado de energia nuclear hoje?

— O mercado de energia nuclear está intimamente ligado a outros setores da economia e está inevitavelmente sujeito à influência de fatores e mudanças externas. Nessas condições, os participantes do mercado precisam se adaptar rapidamente às novas realidades.

Uma das principais tendências na energia nuclear global é a transição para contratos de longo prazo (de 10 a 15 anos ou mais, até contratos para todo o ciclo de vida de uma usina nuclear). Esses contratos envolvem entregas integradas de produtos do ciclo do combustível nuclear em vez de entregas separadas de componentes individuais.

A principal vantagem da cooperação de longo prazo é a oportunidade para todos os participantes do mercado, sejam produtores ou compradores, planejarem efetivamente suas atividades para as próximas décadas. Essa abordagem nos permite minimizar riscos financeiros, de produção e logísticos, garantindo um equilíbrio ideal de interesses. Os produtores podem planejar investimentos com antecedência e gerenciar a capacidade com flexibilidade, enquanto os compradores têm a garantia de suprimentos estáveis e confiáveis.

Além disso, contratos de longo prazo ajudam a estabelecer preços previsíveis, o que é especialmente importante no contexto de crescimento sem precedentes no custo dos recursos energéticos no mercado mundial.

Os mercados internacionais de energia nuclear, incluindo a América Latina, poderiam se beneficiar significativamente da expansão da prática de contratos de longo prazo. Isso contribui para o desenvolvimento sustentável do setor e cria um ambiente de negócios mais previsível e estável.

Em países da região, como o Brasil, existe a prática de celebrar contratos de longo prazo. No entanto, seus prazos geralmente são limitados a cinco anos, dificultando o planejamento estratégico e o desenvolvimento sustentável. Além disso, obstáculos burocráticos, como longos processos de tomada de decisão e procedimentos de licitação inflexíveis, criam desafios adicionais.

Tais restrições levam a atrasos no fornecimento, aumento de custos e, consequentemente, menor competitividade do setor, em um momento em que muitos países buscam ativamente maneiras de impulsionar seu desenvolvimento, enquanto a Rússia continua consolidando sua liderança. Se o Brasil não conseguir superar essas barreiras, o aumento dos custos no setor de energia poderá se tornar crítico, colocando em risco o progresso do setor.

— Como, na sua opinião, os eventos recentes no cenário geopolítico podem afetar a cooperação da Rosatom com o Brasil?

— A Rosatom parte do princípio de que a energia nuclear deve ficar fora do ambiente político. Operamos de forma transparente e no interesse de nossos clientes e parceiros em todo o mundo, observando rigorosamente as leis internacionais e nacionais. A politização do uso pacífico da energia nuclear é inaceitável, especialmente devido ao longo ciclo de vida dos projetos nucleares, cada um dos quais pode durar quase um século. A cooperação responsável e eficaz no setor nuclear não é apenas uma garantia de reputação empresarial, mas também um elemento vital para garantir a segurança nuclear global.

— Por favor, conte-nos sobre os planos da Rosatom para 2025.

— 2025 será um ano marcante para o setor nuclear russo, que celebrará seu 80º aniversário. Esta é uma data importante não apenas para o nosso país, mas também para o setor global de energia nuclear, onde a Rússia ocupa uma posição fundamental. Este ano também será especial para nós porque celebraremos o 10º aniversário da criação do Centro Regional da Rosatom, sediado no Rio de Janeiro.

No Brasil, aguardamos decisões que determinarão o desenvolvimento futuro da geração nuclear: em particular, a conclusão da construção da Usina de Angra-3. Este projeto é um passo importante para aumentar a participação da energia nuclear no balanço energético do país e dará impulso ao desenvolvimento do setor.

No campo da medicina nuclear, estamos trabalhando ativamente na expansão da cooperação – introduzindo novos isótopos para o tratamento do câncer. Estão em andamento trabalhos para realizar entregas de teste do isótopo Lu-177 para uso na produção de radiofármacos.

Outro impulsionador do setor neste ano será a criação de um modelo de cooperação com empresas privadas para mineração de urânio no Brasil. O desenvolvimento de depósitos de urânio abre grandes perspectivas para o país, tanto no mercado interno quanto no cenário internacional.

Estamos confiantes de que 2025 será um ano de novas conquistas e oportunidades. Graças à nossa experiência e liderança tecnológica, somos capazes de dar uma contribuição significativa para o desenvolvimento do setor nuclear no Brasil e na América Latina e estamos prontos para qualquer formato de cooperação.