Mudanças para melhor
de volta ao conteúdoNa cidade de El Alto, na Bolívia, a Rosatom está construindo o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear (cuja sigla em espanhol é CIDTN). Graças ao CIDTN, o país receberá benefícios claros para todos, como: aumentar a vida útil dos produtos alimentícios e, no futuro, aumentar o volume de exportações de produtos agrícolas, diagnosticar o câncer a tempo e com precisão para seu tratamento eficaz. Mas mesmo agora, a vida de quem mora na região onde será o futuro centro está mudando para melhor. Em entrevista ao Boletim Rosatom, o secretário do Setor Central da Federação dos Conselhos Distritais de El Alto, Adolfo Colque Pati, falou sobre como o projeto começou e quais mudanças já ocorreram.
O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear (CIDTN) é a primeira instalação nuclear na Bolívia. Está sendo construído na cidade de El Alto a uma altura de 4.000 metros acima do nível do mar e será o projeto nuclear mais alto do mundo instalado em uma montanha. Em setembro de 2017, foi assinado o contrato geral para a construção do CIDTN entre a Rosatom e a Agência Boliviana de Energia Atômica (ABEN). O projeto do Centro consiste em quatro fases. A primeira e a segunda incluem o Complexo Cíclotron-Radiofármaco e Pré-Clínico e um Centro de Irradiação Multifuncional. A terceira e quarta etapas incluem um complexo reator com um reator de pesquisa e um laboratório de radiobiologia e radioecologia.
El Alto pertence ao departamento de La Paz. É a metrópole de montanha mais alta do mundo. O departamento de La Paz junto com o centro administrativo e a cidade de La Paz (1,8 milhão de habitantes) inclui 20 províncias.
– Por favor, conte-nos um pouco sobre você e seu trabalho como dirigente.
Comecei aqui como liderança local do bairro em 2013. Mas antes de tomar posse era apenas mais um morador que participava de diversas reuniões, nas quais sempre gostei de me expressar.
Uma vez, um dos participantes de uma reunião me disse: seria bom se você fosse o presidente desta zona. Por esta razão eu pensei: “e por que não?” Desta forma poderei ajudar os moradores dos bairros que realmente precisam, então estabeleci essa meta para mim, e em 2013 me tornei presidente da área de Urbanização La Paz da cidade de El Alto e tive a oportunidade de trabalhar para o bem-estar dos moradores de nossa área.
Mais tarde, como presidente, conheci nosso colega Alfonso Ramos que também foi uma das lideranças locais em nossa área, conseguimos convocar vários outros colegas para trabalharmos juntos e conseguimos muitas conquistas para o Distrito 8. Entre elas está o nosso grande orgulho que é o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear (CIDTN).
– Você pode nos contar, por favor, como foi o início do projeto do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear?
Um dia, um vereador disse a mim e ao Alfonso que, naquele momento, o Comitê Cívico da cidade de La Paz estava determinando o que iriam fazer com este grande projeto.
Então, Alfonso e eu fomos lá com outros presidentes, éramos 6 no total. Quando chegamos, descobrimos que havia sido dito que este grande projeto estava sendo rejeitado por aqueles na área de Mallasa, porque “vai atentar contra a humanidade.” Eles pensavam assim, porque os ativistas os haviam informado mal.
E a partir daí criou-se uma confusão, então me levantei e disse que esse projeto tinha que ficar na cidade de El Alto, não podíamos permitir que fosse para outro lugar e que estávamos predispostos a construir o projeto em El Alto. Eu me arrisquei, as pessoas me aplaudiram e me apoiaram, muitos vizinhos do meu bairro que eu nem conhecia vieram até mim e demonstraram apoio.
Então, convocamos uma reunião ampla dos presidentes do Distrito 8, alguns dos participantes da reunião não concordaram com esse projeto, pois não tinham informações corretas. Dissemos aos nossos irmãos para que serve o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear e explicamos que ajudaria as áreas vizinhas a progredir em termos de serviços básicos e desenvolvimento de infraestrutura.
No final, o povo aceitou e conseguimos manter o projeto em El Alto, até enviamos a Evo Morales, que era o presidente da Bolívia na época, uma nota solicitando que o Centro fosse construído no Distrito 8.
Então tivemos que definir a área onde seria implantado um projeto de tal magnitude, eles nos delegaram a função de procurar um local. Para isso, subimos o morro mais alto da região, Apacheta Waranca, e de lá pudemos ver um espaço adequado.
Descobrimos que este território pertencia ao Estado, em particular, ao Banco Central da Bolívia, mas eram apenas 16 hectares, e para a construção eram necessários 20 hectares, conseguimos entrar em acordo com os membros da comunidade de Parcopata para que eles nos dessem os 4 hectares a mais que faltavam, então conseguimos os 20 hectares que precisávamos.
– Para você, por que o projeto do Centro é importante?
Vamos lá:
Em primeiro lugar, quase todos os países da América Latina, exceto a Bolívia, possuem esse tipo de instalação.
Em segundo lugar, é muito importante, porque nos permitirá irradiar ou esterilizar nossos produtos agrícolas, o que ajudará a prolongar sua vida útil e garantir nossa segurança alimentar.
Em terceiro, os medicamentos que permitem que o câncer seja detectado precocemente e tratado de forma mais adequada serão produzidos aqui. É muito importante para nós, porque hoje vemos cada vez mais pessoas com doenças oncológicas.
É um projeto de grande magnitude que a Bolívia precisa. Tais projetos devem ser realizados em áreas dispostas a lutar por eles.
– Como você conseguiu convencer as autoridades a construir o Centro aqui mesmo?
No início, tivemos muitos percalços, porque os que eram contra projeto percorriam todo o local com fotografias e até desenhos de Os Simpsons, contando sobre a tragédia de Chernobyl e assustando as pessoas.
Participei de vários cursos sobre o assunto organizados pela Agência Boliviana de Energia Nuclear (ABEN), e já sabia o que é o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear, lá nos disseram que a potência do reator era muito baixa, e o corpo do reator estaria muito bem protegido. Eles também nos mostraram como exatamente a instalação funciona. Contei tudo o que aprendi aos presidentes de diferentes comunidades locais e a outras pessoas que conhecia.
Além disso, solicitei à agência ABEN que abrisse um escritório em nosso Distrito 8 para podermos socializar e ajudar as pessoas, mas infelizmente até agora isso não foi possível.
Também pedimos que fossem oferecidas às pessoas da nossa área oportunidades de trabalho decente que elas merecem, porque agora, por vários motivos, há muitos desempregados.
O projeto vai criar muitos novos empregos!
E aqui temos os profissionais que merecem que lhes seja oferecida uma oportunidade. É exatamente por isso que lutamos.
Falamos muito sobre o projeto para a população local e, aos poucos, as pessoas entenderam que o centro trará muitos benefícios ao nosso país.
Nesse período, houve mudança em vários diretores da ABEN. Lembro que começamos com o Silverio Chávez, trabalhávamos muito próximos a ele, naquela época a senhora Hortensia Jiménez era vice-ministra, trabalhávamos muito perto dela também. Atualmente ela ocupa o cargo de Diretora Geral Executiva da ABEN.
– Que obstáculos você teve que enfrentar na sua luta pela implementação do projeto? Como você conseguiu superá-los?
As mesmas autoridades locais, incluindo as do município, se opuseram ao projeto, até a ex-prefeita Soledad Chapetón foi contra, mas continuamos a contar às pessoas todos os detalhes sobre o que seria o centro e como funcionaria.
E no final nem as autoridades puderam dizer nada, porque é difícil ir contra nós, os dirigentes, os líderes sociais, então eles tiveram que se conter e aceitar a situação.
No final, a maioria das autoridades aprovou o projeto. Agora quando falamos com eles sobre o projeto eles não falam mais nada, não discutem. Eu acredito que eles sempre se surpreendem com o nível desse projeto.
Além da falta de coordenação inicial com o governo municipal, houve também outros tipos de obstáculos, como, por exemplo, o atraso devido à tradução do russo para o inglês. Estou feliz que tudo isso já está superado.
No entanto, sempre há pessoas que não apoiam o projeto, e acho que é porque precisam de mais informações, não vamos esquecer que às vezes as coisas boas que são ditas podem ser distorcidas e transformadas em ruins, os fatos positivos podem ser apresentados como algo negativo. E a única maneira de combater a desconfiança é manter esse ritmo, é continuar informando as pessoas de todas as idades sobre o CIDTN. Por isso, gostaria de sugerir que se faça mais trabalho de socialização e de ensino.
– Que mudanças positivas já ocorreram no Distrito 8 e em toda a cidade de El Alto graças à construção do Centro?
Quando este projeto havia acabado de começar, a primeira mudança positiva foi a introdução de serviços básicos. O sistema de esgoto foi construído, o sistema de abastecimento de água foi melhorado. Muitas pessoas nos agradeceram por isso.
Demorou muito para começar a construção do CIDTN, as autoridades não nos ajudaram, escreveram-nos, reclamaram que não havia orçamento, mas assim que começou a implementação do projeto tudo ficou mais fácil, porque houve também pressão do governo junto às autoridades locais.
Conseguimos introduzir serviços básicos em nosso distrito, o que também ajudou as áreas vizinhas, e aqueles que não fazem parte de nossa área tiraram proveito disso, já que muitas urbanizações que também careciam de serviços básicos foram incluídas em toda a melhoria da qualidade de vida.
Além disso, o gás doméstico já está entrando em nosso distrito e nas áreas próximas. Em princípio, o projeto ajudou a melhorar muito as condições de vida em várias urbanizações. E acredito que, se não fosse o projeto, estes lugares ainda estariam sofrendo com a falta de serviços básicos.
Também pedimos que a Avenida de Copacabana seja melhorada, esta avenida vai de Ventilla até o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear.
Além disso, graças ao Centro, a Avenida Arica foi construída, e agora muitos vizinhos da rua em frente a ela estão pedindo que esta estrada seja completada do outro lado com uma faixa de descida, pois estão usando a faixa de subida tanto para subir como para descer.
Portanto, podemos dizer que o projeto nos trouxe apenas benefícios e nos permitiu realizar muitas outras iniciativas, que nos ajudam. É claro que ainda não é suficiente, porque, como você viu, o Distrito 8 é enorme e com muitas necessidades. Então, continuamos a trabalhar.
No futuro, esperamos que as ruas sejam ainda mais embelezadas, certamente serão plantadas árvores e o asfalto será colocado. Sei que o orçamento ainda não permite tudo, mas também sei que nosso Distrito 8 o merece, porque lutamos, demos nosso suor, alma, vida e coração para que isso acontecesse.
– Por favor, diga-nos como o projeto influenciará a juventude local.
Influenciará muito, pois é um projeto internacional e graças ao centro, pessoas de todos os departamentos e do exterior, de diferentes países da América Latina virão aqui. Penso até que teremos turistas, que vão querer conhecer o Centro, nossa área começará a crescer, e aparecerão hotéis.
Os próprios moradores locais vão procurar a melhor maneira de atender as pessoas que chegam, para criar melhores condições para os visitantes. Isto, por sua vez, servirá de apoio ao projeto.
– O que os moradores locais têm a dizer sobre o projeto e como a atitude deles em relação ao Centro mudou?
Em sua maioria, sei que eles estão muito felizes, pois estou constantemente viajando para os mais distantes bairros residenciais divulgando o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear. Eles me convidam para aniversários, inaugurações, e eu sempre falo sobre o Centro.
Nosso povo está muito feliz e está ansioso para melhorar sua qualidade de vida, para ter melhores casas para morar.
A única coisa que eles exigem é que seja entregue logo, para que possam começar a usufruir de todos os benefícios para os quais foi destinado.
Mas também sei que o projeto está sendo implementado de acordo com os planos aprovados, que as instalações da primeira e da segunda etapa de construção estão prontas para começar a funcionar e que as da terceira e da quarta etapa estão em construção. Sempre passo por aqui e vejo como o trabalho está progredindo. Acredito que temos que continuar contando às pessoas sobre tudo o que está sendo feito.