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#254Novembro 2024

Contribua com seu grão de areia

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Jaime Poma Flores é físico de nêutrons e especialista em reatores nucleares da Agência Boliviana de Energia Nuclear (ABEN). Ele se formou na MEPhI Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear de Moscou com bacharelado em física e tecnologia nuclear.

Flores comentou como foi seu tempo estudando na Rússia, quais foram as dificuldades que teve que enfrentar e como isso afetou sua carreira em sua terra natal, a Bolívia.

 

Conte-nos sobre sua formação superior. Como você entrou no programa de estudos na Rússia?

Estudei Universidad Mayor de San Andrés da Bolívia, na Faculdade de Ciências Puras e Naturais, Licenciatura em Física. Em 2018, o governo boliviano, através da ABEN, lançou um edital para a concessão de bolsas de estudo para um mestrado em tecnologia nuclear. Vi que eu tinha o perfil exigido e então me candidatei, e depois de algum tempo, eles me notificaram de que eu havia sido selecionado para fazer o mestrado na Rússia. Era uma oportunidade excepcionalmente boa, então não hesitei nem um pouco e aceitei.

 

Conte-nos sobre o processo de admissão na universidade. Você aconselharia os futuros candidatos da Bolívia a ficarem atentos a quais aspectos?

Talvez o mais difícil tenha sido encontrar tempo suficiente para preparar todos os documentos, pois eu estava trabalhando na época e tinha que conseguir cumprir absolutamente tudo o que a ABEN exigia.

Cheguei na Rússia e apresentei à MEPhI todos os documentos apostilados solicitados, de modo que não houve grandes problemas com a inscrição. O fator mais complicado foi eu ter chegado em 18 de outubro de 2018, quando as aulas já haviam começado, e foi difícil colocar em dia as atividades das 12 disciplinas do primeiro semestre. Mas apesar desse inconveniente, eu consegui passar todas as matérias.

É por isso que recomendo aos futuros candidatos que confirmem as informações sobre os prazos e as regras de admissão para que não haja contratempos ou imprevistos na preparação dos documentos e da candidatura.

 

Conte-nos sobre sua vida na Rússia, que dificuldades você teve que enfrentar?

No início, o idioma foi a coisa mais complicada, mas você acaba dando um jeito de superar essa dificuldade. E também o fato de eu ter chegado à Rússia um pouco mais tarde do que o esperado. No mais, não tive maiores dificuldades.

Culturalmente, a coisa mais difícil foi me acostumar à comida russa.

 

O que você mais gostou na Rússia?

Bem, é um país muito seguro, ao contrário de minha cidade natal. O sistema de transporte é muito organizado, as estações são muito bem marcadas e fáceis de encontrar. Em Moscou, todos andam um pouco estressados, porém, pude notar que em outras cidades ou vilas as pessoas são mais relaxadas. Ah, e eu realmente adorei a neve!

 

Qual foi a parte mais difícil de seus estudos?

Em princípio, acho que não tive grandes dificuldades para estudar na Rússia. A única coisa que talvez eu pudesse mencionar é que o tempo para escrever a dissertação não foi suficiente, pois ela teve que ser concluída em cerca de quatro meses. Com relação ao programa acadêmico, não tive maiores problemas. A Rússia obviamente tem um sistema acadêmico diferente do da Bolívia. O que eu poderia destacar é que eles oferecem todas as condições para os estudantes, para que seu desempenho seja o melhor possível. Por exemplo, existem laboratórios especializados, os estudantes têm acesso a equipamentos experimentais nucleares, têm boas condições de vida e de moradia, e assim por diante. Ao contrário da Rússia, na Bolívia ainda não temos a tecnologia ou infraestrutura nuclear, mas esperamos ser capazes de desenvolver nossa ciência nuclear nos próximos anos.

 

Como está indo sua carreira agora, onde você trabalha e que posição ocupa?

A Bolívia está construindo seu primeiro reator de pesquisa nuclear no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear. Isto dá aos profissionais como eu uma chance de desenvolver e aplicar seus conhecimentos e habilidades profissionais.

Atualmente estou trabalhando na Agência Boliviana de Energia Nuclear (ABEN) como técnico de reator de pesquisa. Na Bolívia há poucas oportunidades de exercer a profissão que tenho, pois não temos as mesmas condições que alguns outros países têm em termos de desenvolvimento da ciência. Isso dificulta encontrar um emprego na área

No futuro, pretendo continuar a estudar minha especialidade, ou seja, física e tecnologia nuclear. Creio que é necessário desenvolver a tecnologia nuclear, pois a energia nuclear pode preservar a vida em nosso planeta e prevenir a mudança climática.

 

Você gostaria de ficar na Bolívia ou encontrar um emprego em sua área no exterior?

Como boliviano, tenho a obrigação de contribuir para o meu país com os conhecimentos que adquiri. Como dizemos aqui, “contribuir com meu grão de areia”. Talvez no futuro eu pense em trabalhar no exterior, seria interessante e produtivo fortalecer minha maturidade profissional.

 

Como você vê o futuro do setor nuclear da Bolívia?

A Bolívia entrou na era nuclear graças aos esforços do governo. Sabemos que a tecnologia nuclear tem muitos usos benéficos em diferentes campos. Uma das áreas de alta prioridade para sua aplicação é a medicina, sem esquecer outros setores não menos importantes, como a indústria, mineração, hidrocarbonetos e até mesmo a ciência forense.

A primeira coisa que temos que fazer é difundir o setor nuclear para a sociedade. Até agora, na Bolívia, há pessoas que se opõem ao projeto do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear (CIDTN) precisamente por falta de informação ou pela influência da imprensa tabloide. Então, é um desafio para nós, que trabalhamos no campo nuclear, dar às pessoas as informações corretas sobre o significado de “usos pacíficos da tecnologia nuclear”.

Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear MEPhI

A Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear MEPhI foi fundada em 1942, seu principal objetivo era treinar pessoal para a indústria nuclear soviética. Hoje, a MEPhI é a principal universidade da Rosatom e uma das principais universidades de pesquisa da Rússia, com renomadas escolas científicas. A Universidade forma bacharéis, especialistas, mestres e pós-graduados para a Rússia e países estrangeiros. Mais de 200 programas educacionais são ali implementados.

A principal particularidade de estudar no MEPhI é a continuidade das atividades educacionais, científicas e inovadoras. Os alunos têm a oportunidade de participar de atividades de pesquisa já nos cursos iniciais. A partir do 3º ano é obrigatória a participação em trabalhos de ensino e pesquisa. Alunos de graduação, pós-graduação e mestrado participam de trabalhos de pesquisa nos laboratórios, departamentos e centros científicos da universidade.

 

As bolsas de estudo da Rosatom

Todos os anos, a Rosatom concede mais de 200 bolsas a estudantes de outros países, permitindo que estudem em uma de suas universidades parceiras. Uma bolsa cobre todos os gastos dos estudos, subsídios mensais, um estágio em um dos centros da Rosatom, bem como um curso de russo de um ano (opcional). Os candidatos são oferecidos vários graus universitários: bacharelado (4 anos), grau de especialista (5,5 anos), mestrado (2 anos), estudos de pós-graduação (4 anos). Para mais informações visite: studynuclear.com