Novos horizontes de cooperação
de volta ao conteúdoA Rosatom tem vários projetos conjuntos com países da América Latina, desde o fornecimento de produtos e serviços de urânio para o Brasil até a construção do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear na Bolívia. O presidente da Rosatom América Latina, Ivan Dybov, falou sobre as principais áreas de cooperação e planos para o próximo ano.
Você poderia nos contar sobre os principais resultados do trabalho da Rosatom na América Latina no ano passado?
O ano passado foi bastante frutífero, apesar da conjuntura internacional. Em particular, novas áreas de cooperação com o Brasil surgiram no campo do fornecimento de produtos e serviços do ciclo do combustível nuclear. Por exemplo, a Rosatom assinou um contrato de longo prazo com a empresa brasileira Indústrias Nucleares do Brasil para fornecer urânio enriquecido à usina nuclear de Angra, que cobrirá a maior parte das necessidades de urânio enriquecido da usina de 2023 a 2027. O contrato foi celebrado após um concurso público internacional.
Além disso, em 2022, a Rosatom entregou equipamentos ao Brasil para o reator de pesquisa TRIGA. A estatal também continua fornecendo isótopos médicos para o Brasil, dando assim uma importante contribuição no combate ao câncer.
A cooperação com outros países latino-americanos também está se desenvolvendo ativamente. A construção do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear na Bolívia, a primeira instalação nuclear do país e a mais alta do mundo, está em estágio avançado.
O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear é um dos maiores projetos da Rosatom na América Latina. Qual é o status atual do projeto? Quais são os principais eventos previstos para este ano?
No ano passado, a Rosatom entregou para operação experimental as instalações do primeiro e segundo estágios do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear: um Complexo Pré-Clínico Cíclotron-Radiofarmácia e um Centro de Irradiação Multifuncional. O cíclotron permite obter, em particular, a fluoroglucose e o tecnécio 99, um dos isótopos mais necessários para a detecção do câncer. O centro de irradiação multifuncional é baseado em uma planta gama industrial com capacidade de processamento de mais de 70 toneladas de matérias-primas agrícolas e alimentos por dia.
Prevê-se o início da exploração comercial destas duas instalações ainda este ano, tendo já sido produzidos os principais radiofármacos com as características pretendidas, e obtidas as licenças necessárias para a entrada em funcionamento destas instalações.
Além disso, continua a construção da terceira e da quarta etapa do centro, que incluem um complexo técnico e de engenharia, edifícios de laboratórios e o coração do projeto, que é o complexo do reator.
A Rosatom planeja construir centros semelhantes em outros países da América Latina?
O projeto na Bolívia é o cartão de visitas da Rosatom para a região. Acreditamos que após seu lançamento o centro se tornará uma referência para outros países. Em particular, os estados da América Central e do Caribe estão demonstrando interesse no projeto. Esses países estão interessados em usar tecnologias nucleares na medicina, agricultura e pesquisa científica. Entendemos que cada país possui características próprias, por isso estamos preparados para adaptar o projeto às necessidades de um determinado cliente.
Por exemplo, se um país pretende se concentrar na agricultura ou na medicina, podemos oferecer uma configuração adaptada especificamente para essas frentes.
Como mostra a experiência boliviana, a implementação de projetos como o centro não só contribui para o desenvolvimento de áreas tão importantes como saúde, agricultura e ciência, mas também estimula a formação de novos quadros e possibilita a realização de pesquisas científicas avançadas.
Conte-nos sobre a cooperação entre a Rosatom e o Brasil. Como você vê a estratégia geral de cooperação? Que novos projetos estão previstos para este ano?
No Brasil, estamos interessados no programa de desenvolvimento de energia nuclear como um todo. O governo do país adotou um programa de médio prazo que inclui a construção de novos reatores com capacidade total de 10 gigawatts. Na pauta, estão tanto as usinas nucleares tradicionais quanto aquelas baseadas em pequenos reatores modulares. Lembro que a Rosatom é líder mundial na construção de usinas nucleares. Além disso, nosso país é o único no mundo que possui uma usina nuclear de baixa potência em funcionamento, que é a usina flutuante “Akademik Lomonosov” localizada na cidade de Pevek, no norte da Rússia. Podemos oferecer ao Brasil tecnologias seguras e confiáveis que impulsionarão a economia do país.
Também comentarei sobre os projetos específicos. No ano passado, a Rosatom enviou ao Brasil equipamentos para um reator do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear em Belo Horizonte. Planejamos montar a equipe em março-abril deste ano. Atualmente, estamos trabalhando na execução de todos os acordos.
Além disso, o Brasil estuda a continuação da construção do reator nº 3 da usina nuclear de Angra. A Rosatom tomará a decisão sobre a participação neste projeto com base nas condições do concurso internacional. Estamos satisfeitos com a transparência com que a Eletronuclear está negociando com potenciais parceiros.
E, claro, o Brasil é um dos mais importantes parceiros da Rosatom no fornecimento de produtos isotópicos. Enviamos semanalmente para este país isótopos de iodo e molibdênio, que são utilizados no tratamento de doenças cardiovasculares e oncológicas. A Rosatom fornece quase metade dos radioisótopos, que são adquiridos pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). Além disso, ampliamos a cooperação com o Brasil nessa área, fornecendo novos tipos de produtos isotópicos. Em particular, ganhamos no ano passado uma licitação para fornecer à Eletronuclear o isótopo de zinco, que é utilizado na operação de combustível nuclear em usinas nucleares.
Com quais outros países, além do Brasil e da Bolívia, a Rosatom coopera na região?
No ano passado, tivemos uma colaboração frutífera com a operadora de usina nuclear argentina, Nucleoeléctrica (NA-SA). Já esboçamos uma lista de projetos específicos que podemos desenvolver juntos. Durante uma recente visita à Argentina, realizamos uma videoconferência com especialistas russos para discutir áreas específicas de cooperação. Esperamos que neste ano essas negociações se tornem projetos reais, pois todas as condições para isso estão presentes.
Como se sabe, a Rosatom atua não apenas no campo da energia nuclear, mas também na energia alternativa. A Corporação Estatal constrói e opera parques eólicos na Rússia. Estamos entrando agora no mercado internacional para esse tipo de segmento.
Por exemplo, realizamos uma análise preliminar do mercado da Nicarágua para entender a viabilidade de aplicar um modelo de negócios que leve em conta as tarifas de eletricidade gerada por usinas hidrelétricas e parques eólicos. O estudo mostrou que este é um mercado atraente e esperamos desenvolver a cooperação nesta área. No ano passado, no fórum Atomexpo, assinamos um roteiro com a Nicarágua, que inclui os projetos mais promissores no campo do uso de tecnologias nucleares para fins pacíficos, principalmente na agricultura, medicina e ciência.