Cooperação na área dos isótopos
de volta ao conteúdoNo final de junho, o primeiro Fórum Internacional do BRICS sobre Medicina Nuclear foi realizado em São Petersburgo. Mais de 250 representantes dos países da associação discutiram a situação atual nesta área. A Rosatom foi uma das organizadoras do fórum.
Dando as boas-vindas aos participantes, a Vice-Primeira-Ministra Tatyana Golikova afirmou a necessidade de os países participantes formarem uma estratégia unificada para o desenvolvimento da medicina nuclear, incluindo abordagens unificadas para o tratamento de doenças e o uso de radiofármacos. Além disso, a Vice-Ministra propôs desenvolver a medicina nuclear em três vertentes: a primeira é aumentar a soberania tecnológica por meio do desenvolvimento da produção própria de radiofármacos e equipamentos para seu uso; em segundo lugar, promover tecnologias de medicina nuclear não apenas dentro do BRICS, mas também entre outros países; e, em terceiro lugar, aumentar o intercâmbio comercial na área da medicina nuclear.
Para atingir esses objetivos, Tatyana Golikova propôs identificar as áreas mais promissoras na cooperação técnico-científica e na produção de radiofármacos inovadores, bem como coletar e publicar uma revisão das melhores práticas para o tratamento de doenças com o uso da medicina nuclear nos países do BRICS.
O Ministro da Saúde da Rússia, Mikhail Murashko, esclareceu que essa revisão está planejada para ser preparada para a 14ª Reunião de Ministros da Saúde do BRICS, marcada para outubro deste ano, observando: “As iniciativas dos países do BRICS podem se tornar a base da arquitetura global do setor de saúde“. O relatório será enviado à ONU, à OMS, à Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer e à AIEA.
Mikhail Murashko destacou que os radiofármacos estão incluídos na lista de tecnologias prioritárias para o desenvolvimento, aprovada por decreto do Presidente da Federação Russa. No âmbito do projeto federal “Luta conta o Câncer”, mais de 800.000 estudos são realizados na Rússia todos os anos. Eles são cobertos por seguro de saúde (medicina pré-paga) e são gratuitos para os russos. Existem as drogarias radiofarmacêuticas, nas quais toda a cadeia produtiva é organizada, desde a produção de isótopos até os radiofármacos prontos. Na Rússia e na União Econômica Eurasiática, a estrutura regulatória foi ajustada para que os avanços na medicina nuclear cheguem aos pacientes mais rapidamente. Mikhail Murashko propôs que os países do BRICS conduzam pesquisas em conjunto e produzam radiofármacos.
De acordo com Yuri Olenin, Vice-Diretor Geral de Ciência e Estratégia da Rosatom, a medicina nuclear é uma das atividades prioritárias da Corporação Estatal. A Rosatom desenvolve a infraestrutura para a prestação de serviços de saúde, produz e fornece isótopos médicos e radiofármacos, fabrica equipamentos para diagnóstico e tratamento e desenvolve soluções para o tratamento ionizante de produtos médicos. Especificamente, a Rosatom fornece até 90% dos suprimentos de isótopos no Irã, um terço no Brasil, 22% na China e 13% na Índia.
Yuri Olenin enfatizou a importância de harmonizar as regras nacionais que regulam, por exemplo, as cadeias de suprimentos de medicamentos, estudos pré-clínicos e clínicos, etc.
Conforme observado pelo Dr. Boris Dolgushin, acadêmico da Academia Russa de Ciências e Diretor do Instituto de Radiologia Clínica Experimental do Centro Nacional Blokhin de Pesquisa Médica em Oncologia, a Rússia tem muito a oferecer aos países do BRICS em medicina nuclear. Em primeiro lugar, a educação, uma vez que a Rússia é um dos líderes neste domínio, e pode proporcionar formação no âmbito dos programas da AIEA. Em segundo lugar, os equipamentos: reatores nucleares, aceleradores, cíclotrons. Em terceiro lugar, os materiais nucleares e, em quarto lugar, as novas tecnologias. Desta forma, uma instalação para terapia de captura de boro e nêutrons está sendo montada no Centro de Ciências Blokhin, que deve estar operacional até o final deste ano.
Prabha Ethiraj, Diretora do Instituto de Medicina Nuclear do Hospital Multidisciplinar Estadual e Presidente da Sociedade Nuclear da Índia, disse que a medicina nuclear cresceu exponencialmente na Índia desde 1970. Entre 80% e 90% das organizações neste campo são privadas. “Isso oferece uma oportunidade para desenvolver tecnologia e criatividade em medicina nuclear“, explicou Prabha Ethiraja. O Estado se encarregou da formação de especialistas.
Rafael López, Diretor do Departamento de Medicina Nuclear do Hospital de Cardiologia e Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, abordou o uso de radiofármacos em cardiologia. Cerca de um milhão de procedimentos são realizados anualmente, representando metade do volume total. Os procedimentos são realizados usando o SPECT, por ser econômico e acessível. O desafio para o país é aumentar o número de scanners PET e os procedimentos com eles realizados: são necessários geradores de rubídio caros. “Precisamos pensar juntos sobre como tornar as tecnologias de medicina nuclear economicamente acessíveis para que os pacientes vivam vidas mais longas e saudáveis“, sugeriu Rafael Lopez.
O Diretor Geral da empresa iraniana Pars Isotope Company, Mohammadreza Davarpanah, disse que vê futuro no uso de várias combinações de isótopos com radiação alfa e beta. O país planeja dobrar o parque SPECT (atualmente existem mais de 220 dispositivos) e instalar até 60 scanners PET. O país produz cerca de 60 radiofármacos, mais da metade deles são de diagnóstico; 18 novos produtos estão em fase de ensaios clínicos e 11 em fase de pesquisa básica. “Ficaremos felizes em ajudar os países na realização de pesquisa e desenvolvimento. Isso é muito importante, pois o câncer é um inimigo comum para todos nós“, concluiu Mohammadreza Davarpanah.
Representantes de organizações líderes no campo da medicina nuclear da China, África do Sul, Egito e Arábia Saudita também compartilharam suas experiências.
No âmbito do fórum, foram realizadas 16 sessões, nas quais foram discutidas a produção de radionuclídeos básicos, desenvolvimentos inovadores, registro de radiofármacos, várias tecnologias em medicina nuclear, sua aplicação em cardiologia e endocrinologia e outros temas. Os resultados do fórum serão a base para discutir questões de cooperação no campo da medicina nuclear no âmbito da cúpula do BRICS em Kazan, que ocorrerá de 22 a 24 de outubro de 2024.