A Europa terá um Centro de Ciência e Tecnologia Nuclear
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#249Janeiro 2022

A Europa terá um Centro de Ciência e Tecnologia Nuclear

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A Rússia e a Sérvia concordaram em construir um Centro de Ciência e Tecnologia Nuclear (CNST, sigla em inglês). O acordo-quadro geral correspondente e o acordo sobre o estabelecimento de uma joint venture que trabalhará neste projeto foram assinados pela Rosatom e pelo Governo da Sérvia em dezembro de 2021.

Sequenciamento

O projeto CNST na Sérvia será implementado sequencialmente, em três fases. Em primeiro lugar, será construído um complexo para a produção de radiofármacos para o tratamento do câncer. Instalações de medicina nuclear já estão operando no país, mas quase todos os medicamentos são importados. O complexo permitirá localizar a produção de medicamentos dentro do país. Nesta fase, as matérias-primas isotópicas serão fornecidas da Rússia.

Em segundo lugar, será criado um complexo cíclotron no CNST, onde serão produzidos isótopos. Após o lançamento do cíclotron, a Sérvia poderá produzir matérias-primas isotópicas para radiofármacos não apenas para suas próprias necessidades, mas também para exportação para países vizinhos.

Como parte da terceira etapa, serão construídos um reator de pesquisa e um complexo de laboratórios. Será possível produzir isótopos no reator e realizar vários experimentos, incluindo pesquisas em ciência dos materiais. Os isótopos produzidos no cíclotron e no reator de pesquisa para as necessidades da medicina nuclear têm meias-vidas diferentes.

A Rosatom não será apenas fornecedora de equipamentos e tecnologias. “Pretendemos atuar como coinvestidores e participar no trabalho das instalações científicas e de produção que serão criadas no âmbito deste projeto.”, – disse Evgeny Pakermanov, presidente da Rusatom Overseas, após a assinatura.

Possibilidades do CNST

O CNST na Sérvia é o segundo projeto deste tipo da Rosatom e o primeiro na Europa. Um centro de pesquisa e tecnologia nuclear já está sendo construído na Bolívia, em El Alto, a uma altitude de 4.000 metros acima do nível do mar. Incluirá um reator de pesquisa, um complexo cíclotron-radiofarmacológico pré-clínico, um laboratório de radiobiologia e radioecologia e um centro de irradiação multifuncional. Esta última instalação foi projetada para garantir a qualidade e prolongar a vida útil dos produtos agrícolas e alimentícios. Ela utiliza tecnologia de processamento por radiação ionizante aprovada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a AIEA e a Organização Mundial da Saúde.

O projeto sérvio não prevê o centro de irradiação multifuncional, mas há planejamento de usar ativamente tecnologias nucleares para as necessidades de eletrônica e uso do subsolo. Em particular, produzirá dopagem de silício com energia nuclear para a indústria radioeletrônica. O uso da dopagem por transmutação de nêutrons sugere que os dopantes não são introduzidos no material, mas são formados (transmutados) a partir dos átomos da própria substância. A irradiação com nêutrons térmicos desencadeia reações nucleares, como resultado do qual o fósforo é formado a partir do silício. A vantagem deste método está na alta uniformidade da distribuição de impurezas sobre o silício. Com o método metalúrgico (introdução de fósforo na massa fundida), é extremamente difícil alcançar essa uniformidade. Silício dopado obtido por transmutação de nêutrons atende totalmente aos requisitos da eletrônica de potência e da indústria de energia elétrica. De acordo com as previsões, a partir de 2025, quando a produção de motores de combustão interna deverá diminuir, a demanda por silício aumentará em 2 vezes.

Os isótopos são necessários pelos geólogos para entender melhor a gênese e a idade dos depósitos. Eles estudam isótopos de biofílicos, ou seja, elementos que participam de processos bioquímicos (H, C, O, S). Por exemplo, a distribuição de isótopos estáveis ​​de oxigênio permite analisar as fontes da substância que participou do processo de formação do minério. O enxofre de origem biogênica e vulcanogênica possui uma composição isotópica diferente. E o método de geocronologia de isótopos, ou seja, o acúmulo de certos isótopos em minerais, permite determinar com bastante precisão a idade de objetos geológicos.

A semelhança dos projetos boliviano e sérvio está na introdução de tecnologias médicas nucleares. “O complexo radiofarmacêutico e o centro de medicina nuclear proporcionarão aos cidadãos sérvios acesso a cuidados médicos de alta tecnologia, destinados principalmente à resolução de questões relacionadas com o combate às doenças oncológicas“, – disse Alexei Likhachev, Diretor Geral da Rosatom.

Importância internacional

O futuro CNST já está se tornando um centro de atração para cientistas, engenheiros, médicos e políticos nos Balcãs. “Assinamos acordos que devolvem a Sérvia ao mapa dos países europeus com base para a investigação científica no domínio da tecnologia nuclear. Já estamos recebendo pedidos de países vizinhos que querem usar as instalações do centro junto com nossos cientistas“, – disse o Ministro da Inovação e Desenvolvimento Tecnológico da Sérvia, Presidente do Comitê Intergovernamental de Cooperação com a Rússia, Nenad Popovich.

A construção do CNST é a implementação de um acordo interestadual assinado em 2019 durante uma visita à Sérvia do presidente russo Vladimir Putin. Nenad Popovic acredita que os acordos de dezembro abrem perspectivas para as relações entre a Sérvia e a Rússia no campo da tecnologia nuclear. Evgeny Pakermanov concorda com ele: “O surgimento do CNST impulsionará toda a indústria para o processo de formação, que usará tecnologias nucleares não energéticas“.

Evgeny Pakermanov tem certeza de que: “Não há projeto mais consistente com os objetivos do desenvolvimento sustentável do que o projeto do CNST. O centro operará tecnologias livres de carbono destinadas ao desenvolvimento da medicina, ciência e indústria. Tal projeto estimula a formação de especialistas altamente qualificados. Já estamos ensinando os primeiros alunos da República da Sérvia e planejamos aumentar seu número a cada ano. Esperamos que toda uma gama de novos especialistas participe da criação e desenvolvimento do CNST“.